São Paulo – A ideia de oferecer apenas plataforma online direta ao cliente final, estabelecida inicialmente pela chinesa Seres, descartando o modelo tradicional com concessionárias, foi descartada. José Augusto Brandimarti, seu chefe de operações, disse que um modelo híbrido será adotado: um misto de vendas online e representações físicas. Porque o consumidor brasileiro ainda tem ligação com o modelo tradicional de compra de veículos na concessionária.
Para os próximos dois anos a empresa tem um processo de expansão de rede: “Neste prazo queremos chegar a vinte lojas no Brasil e, ao mesmo tempo, continuamos a desenvolver e a aperfeiçoar nossa plataforma digital, porque queremos manter os dois tipos de operação. Será um modelo parecido ao que outras montadoras dispõem e funcionará como um acelerador estratégico dos nossos negócios”.
Para definir seus parceiros de rede a Seres está negociando com grandes grupos conhecidos do consumidor brasileiro, para trazer ainda mais confiança para o negócio. A intenção é a de que, embora a marca seja nova, o consumidor poderá identificar que o grupo concessionário responsável pela revenda é tradicional. O número de grupos não será muito grande, para definir junto com eles o volume de importação de veículos, conforme a demanda, sem construir grandes estoques.
A expansão da rede seguirá de acordo com os estados que possuem mais volume de vendas de veículos eletrificados. São Paulo é a maior praça e já recebeu a primeira revenda. A Seres pretende avançar para Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo, Pernambuco e Alagoas, sendo que os dois últimos estados terão revendas de um mesmo grupo, que é forte na região.
A mudança de planos da Seres foi baseada em uma série de características do consumidor brasileiro, como a vontade de ir até uma loja para negociar pessoalmente o veículo, fazer um test-drive, ver o modelo pessoalmente e sentir o cheio do interior do modelo zero quilômetro: “Para avançarmos com o modelo digital de vendas precisamos ser conhecidos e oferecer toda a confiança que o público do segmento premium exige. Acredito que no futuro será possível apostar mais nesse modelo”.
O modelo híbrido de vendas no qual a Seres aposta terá mais uma vantagem: o estoque será de responsabilidade do concessionário e não sua, aliviando a necessidade de um aporte para trazer os carros para o País e vender diretamente aos clientes.
Os planos da Seres também serão afetados pelo aumento do imposto de importação para veículos elétricos e híbridos a partir de 2024, movimento que afetará diretamente a demanda para todas as marcas que importam, de acordo com o executivo. Para driblar esta turbulência a empresa pretende reduzir margem e negociar preços melhores com a matriz, para que o impacto para o consumidor final seja o menor possível.
Para atingir suas projeções, a Seres também apostará na venda de comerciais leves elétricos no Brasil, segmento que está em alta e do qual possui ritmo alto de produção na China, conseguindo atender aos pedidos dos clientes em torno de sessenta dias — outras marcas demoram em torno de seis meses: “Usaremos a rede para também identificar os clientes e para prospectar grandes players que possuem frota própria, como Amazon e Mercado Livre, por exemplo, que buscam reduzir as emissões de suas entregas”.
Todo este trabalho no Brasil faz parte de um projeto global de ser a marca líder de vendas no mercado premium nos próximos anos, apostando em algumas ideias como o nível de tecnologia embarcada nos veículos, desenvolvido em parceria com a Huawei, componentes de alto desempenho usados por outras marcas de luxo e preços mais competitivos.