Mulheres, esportes, saúde e sucesso

No majestoso filme King Richard: criando campeãs, estrelado por Will Smith (premiado no Oscar como melhor ator), o Esporte brilhou como instrumento de transformação e empoderamento de duas meninas, que tiveram total apoio dos pais e constante incentivo em suas performances física e, sobretudo, mental. Autoestima fortalecida desde o início, incentivos à vontade de crescer e de vencer, autoconfiança estimulada no mais elevado nível as fizeram ser admiradas mundialmente e a se tornarem as maiores atletas de tênis de todos os tempos.

Desconsiderando os possíveis excessos dos métodos do pai, Sr. Richard Williams, viu-se uma elevada carga de envolvimento dos pais e da família com a busca pelo sucesso global das filhas, não apenas o sucesso financeiro, de poder ou status mas principalmente de conseguir fazê-las reconhecer o próprio valor, que é base para se ter resultados em qualquer área da vida e um princípio inegociável muito bem explorado no filme.

A vitória deste filme no Oscar neste mês de março, que tem o dia das mulheres como destaque, nos presenteia com reflexões importantes acerca da criação e educação das meninas e futuras mulheres, sobre sucesso, sobre se dedicar, lutar e conseguir atingir grandes objetivos.

Que busquemos estimular as mulheres, desde a infância, a ser mais fisicamente ativas, já que habitualmente são desestimuladas, desde pequenas, a realizar esforços físicos mais prolongados e vigorosos. Em um estudo que realizamos em Goiânia, com 1170 adolescentes no projeto CorAdo (Coração de Adolescente), identificamos 80,4 % de inatividade física entre as meninas, ou seja, taxa elevadíssima, que requer atenção das autoridades públicas, visando mudança neste panorama. Nos rapazes a taxa de inativos fisicamente foi de 59,5%.

A inatividade física, ou seja, a prática de atividade física insuficiente aumenta riscos à Obesidade, Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Dislipidemia (alterações no perfil lipídico como no LDL-Colesterol, triglicérides, HDL- Colesterol), e ainda a alguns tipos de câncer. Eleva também as chances de desenvolvimento de quadros de Depressão e Ansiedade. No Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), que também participamos, avaliamos 77.399 adolescentes de diferentes regiões do Brasil e a inatividade física no lazer e na escola aumentaram os riscos à presença de transtornos mentais comuns, também conhecidos como distúrbios psiquiátricos menores ou sofrimento psíquico, caracterizados principalmente pela presença de sintomas de depressão e ansiedade. Os resultados deste estudo, sugerem que a prática esportiva, a educação física escolar e a atividade física durante o lazer têm relação com a saúde mental dos jovens.

Em uma pesquisa publicada pela EY Women Athletes Business Network (rede das atletas executivas da EY) e pela plataforma de notícias espnW, com 400 executivas, 94 % afirmaram praticar algum esporte ou exercício físico e reconhecem que as experiências esportivas contribuem positivamente em suas carreiras, especialmente em relação à liderança. O esporte possibilita ainda experiências aplicáveis à gestão, ao trabalho em equipe, resiliência, disciplina e dedicação, atributos fundamentais a quem deseja o sucesso pessoal e profissional. 

Atividades esportivas ou exercícios físicos (inclusive os feitos em casa) têm ajudado também muitas mulheres mães, em suas exaustivas rotinas da maternidade, melhorando a disposição, o cansaço, a relação com o corpo após gestação e auxiliando na incorporal do hábito em toda a família.  É um ciclo vicioso positivo, se a criança ve os pais engajados em hábitos de vida saudáveis, ela aprende e aumenta a chance de leva-los por toda a vida.

Ainda há muito a ser feito, muitas mulheres precisam se movimentar mais, ainda assim vê-se que o exercício físico tem se tornado um item quase que indispensável ao dia a dia de muitas, é na academia, no parque, na rua que ela gasta energia, se desafia, se condiciona física e mentalmente, e sai revigorada e pronta para as batalhas do dia a dia.

Que toda mulher tenha elevada autoestima e que acredite em si o máximo possível, para que ao lutar por qualquer objetivo (pessoal, profissional, familiar, global ou social) possa olhar para dentro e pensar: “Você vai entrar lá de cabeça erguida. Você é uma campeã. E o mundo inteiro sabe disso” (King Richards).

*Thaís Rolim Póvoa é professora Universitária e pesquisadora em Atividade Física e Saúde, com formação em Educação Física, Doutorado e Pós -Doutorado em Saúde.