Jurista portuguesa comenta artigo de Pippo Russo sobre o “turbilhão de dinheiro” à volta de um “jogador modesto”
O percurso de Carlos Vinícius, jogador emprestado pelo Benfica ao Tottenham e que é agenciado por Jorge Mendes, mereceu uma análise atenta de Pippo Russo, sociólogo, professor universitário, autor e jornalista, que se dedica a investigar o fenómeno da economia paralela no futebol. Esse artigo, publicado pelo portal Calcio Mercato, chamou por sua vez a atenção de Ana Gomes, jurista e ativista contra a corrupção, que levantou a hipótese de se tratar de “um negócio de lavandaria”.
Na base do artigo está o “resgate milionário” que o Tottenham terá de pagar ao Benfica, no valor de 45 milhões de euros, para adquirir em definitivo Carlos Vinícius, “um jogador que quase nunca se viu em Nápoles”, para onde rumou a partir do Real Massamá numa transferência que envolveu “altos valores pagos em comissões e intermediação”. “As experiências com as camisolas do Mónaco e Tottenham não confirmam os números generosos registados com as camisolas do Real Massamá, Rio Ave e Benfica. Acima de tudo, continua a ser incompreensível por que motivo o Nápoles contratou Vinícius durante a janela de transferências do inverno de 2019”, escreveu Pippo Russo.
Sem “grandes hipóteses” de ficar no Tottenham, Vinícius acabará por regressar ao Benfica. Ou não, avança o jornalista e investigador, lembrando que o avançado brasileiro é agenciado por Jorge Mendes: “Mesmo que termine a aventura de Vinícius com os ‘spurs’, é provável que o atacante permaneça na Premier League graças à hipótese de que não foi sequer listada pelas casas de apostas: a intervenção do Wolverhampton, clube próximo de Jorge Mendes e que está sempre pronto para salvar jogadores da Gestifute quando eles correm o risco de desvalorização. O emblema de Midlands, controlado pelo conglomerado chinês Fosun, está sempre pronto para intervir quando o amigo Jorge Mendes tem um problema”.
No artigo, Pippo Russo destaca o registo “modesto” de Carlos Vinícius num Tottenham orientado pelo técnico português José Mourinho, “também cliente de Jorge Mendes”. O avançado nunca conseguiu “ganhar espaço” no plantel e, “quando foi chamado, não fez muito para convencer o treinador do Setúbal a dar-lhe mais algumas oportunidades”. No campeonato inglês, Vinícius fez um golo em nove jogos. “Saiu-se um pouco melhor na Liga Europa”, com seis golos em nove jogos “de diferentes graus de dificuldade”. Já o ‘hat-trick’ na Taça, contra o Marine FC, foi “festejado por alguma imprensa portuguesa com excessivo destaque, visto que a equipa adversária joga na oitava divisão”, acrescentou o sociológo italiano.
Pippo Russo recorda então, com “estranheza”, a carreira de Vinícius, a partir da passagem “totalmente irrelevante” pelo Nápoles. “Contratado em janeiro de 2018, ficou por empréstimo no Real Massamá, clube muito próximo de Jorge Mendes, até ao final da temporada”. Regressado ao Nápoles, Vinícius “foi retirado da pré-época com um empréstimo ao Rio Ave, outro clube próximo de Mendes”. Seguiu-se novo empréstimo em janeiro de 2019, para o Mónaco, clube “com ótimas relações com o chefe da Gestifute”. Após um “curto trânsito” de regresso ao Nápoles, “uma transferência imediata para o Benfica, clube que Jorge Mendes domina”, numa transferência “ao preço exagerado de 17 milhões de euros”.
“Um turbilhão de dinheiro que mudou e continua a movimentar um jogador de calibre modesto”, finalizou Pippo Russo, num artigo que despertou a atenção da ex-eurodeputada Ana Gomes. Através das redes sociais, a jurista e ex-candidata à Presidência da República perguntou ao autor italiano se estava a falar de um negócio “de futebol, de lavandaria ou de ambos”. Refira-se que Pippo Russo é o autor de ‘A Orgia do Poder, a história nunca contada de Jorge Mendes, o agente português que se tornou o patrão do futebol mundial’, livro que aborda o “declínio do império” de Jorge Mendes. O jornalista e investigador italiano, que se dedica a investigar o fenómeno da economia paralela no futebol, já fez várias abordagens sobre o futebol português, afirmando publicamente que Pinto da Costa “está num nível superior” e que Luís Filipe Vieira “não tem grande talento como dirigente desportivo”, entre outras considerações.
O negócio é de futebol, de lavandaria ou de ambos? https://t.co/3cMGd6LRsU
— Ana Gomes (@AnaMartinsGomes) April 17, 2021