Uma cafeteria de SC quer ter presença nacional em plena pandemia. Como?

Loja do Café Cultura em Florianópolis: delivery de cestas de café da manhã passou a ser negócio relevante para a cafeteria (Lucas Amorim/Exame)

A pandemia mudou uma porção de coisas na vida das pessoas, colocou meio mundo para trabalhar dentro de casa, criou negócios, fechou outros, mas uma coisa parece ter seguido igual: o hábito de tomar café

O consumo da bebida energética de preferência dos brasileiros até aumentou, ainda que timidamente, no ano passado. Foram 21 milhões de sacas, 1,3% mais que no ano anterior, segundo a Abic, a associação do setor.

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Boa parte desse consumo tem vindo, é claro, de gente trancada em casa em busca de inspiração em meio à rotina maçante de reuniões por videoconferência – e de outras frustrações trazidas pela vida em quarentena.

A demanda de kits de café para consumo em casa explica, em grande medida, o ritmo de pé no acelerador mantido pelos sócios-fundadores do Café Cultura, uma rede de franquias de cafeterias premium aberta no coração da Lagoa da Conceição, um dos principais pontos turísticos de Florianópolis, em 2004.

De lá para cá, o negócio virou franquia e hoje tem 18 lojas nas principais cidades da região Sul. Com receitas estimadas pelo mercado na casa dos 20 milhões de reais por ano (a empresa não revela o valor), o Café Cultura está aproveitando a pandemia para avançar a estratégia de abrir unidades país afora.

Em abril, o Café Cultura está abrindo as primeiras lojas no Sudeste – a capital do Rio de Janeiro deve receber unidades, depois Minas Gerais. A meta é chegar a 46 unidades no fim deste ano. Em cinco anos, o objetivo é ter 246 lojas.

A pandemia, claro, trouxe mudanças significativas para o Café Cultura. O delivery passou a ser um negócio relevante por ali. O portfólio ganhou kits de brunch e outras linhas de café da manhã para consumo em casa. “Entramos no delivery e passamos a conhecer melhor o cliente na pandemia”, diz a sócia Luciana Melo. “O e-commerce fatura hoje, por mês, praticamente tudo o que movimentou no ano passado inteiro e responde a perto de 10% das vendas totais.”  

O negócio do Café Cultura começou pelas mãos da mineira Luciana Melo e do californiano Joshua Stevens, um casal que recentemente havia trocado a vida agitada na capital paulista em busca da qualidade de vida desfrutada por boa parte dos moradores de Florianópolis. 

Stevens havia trabalhado em bares, cafés e restaurantes na Califórnia. Luciana, por sua vez, buscava empreender depois de anos de experiência como executiva de empresas.

O negócio ganhou notoriedade ao ser um dos primeiros no país a trabalhar diretamente com produtores rurais de Minas Gerais para oferecer grãos exclusivos — e a torrar e moer o café por ali mesmo, em vez de comprar o produto já pronto de fábrica.

Com produtos exclusivos em mãos, veio a expansão. Para isso, em 2017, o casal juntou-se a Carlos Zilli, Nanina Rosa e Cecilia Rosa, ex-sócios da rede varejista de itens para casa e presentes Imaginarium, cujo embrião também foi nos arredores da Lagoa da Conceição, onde começou o Café Cultura. Zilli, ex-presidente da Imaginarium, hoje coordena a expansão nacional da cafeteria.

Como mostrou reportagem da EXAME em novembro de 2018, o desafio do Café Cultura é expandir rapidamente num mercado ainda de nicho no Brasil. 

Embora as cafeterias estejam presentes em boa parte das regiões movimentadas das cidades brasileiras, o mercado de alto padrão desejado pelo Café Cultura ainda é dominado por poucas redes no país, como Santo Grão, Suplicy e Starbucks

É um setor que sofreu com a pandemia. Basta lembrar o fechamento das duas unidades do Octavio, uma das principais cafeterias de São Paulo. Até o ano passado, a unidade original da rede, quase na esquina da avenida Faria Lima com a Cidade Jardim, coração financeiro da capital paulista, era o ponto de encontro número 1 para negócios na região. 

Em julho do ano passado, em virtude do tombo na frequência causado pela quarentena, a rede fechou as portas das duas unidades (a outra era no shopping de alto padrão Cidade Jardim, também em São Paulo) e atualmente se dedica à venda de cafés especiais pela internet. 

Apesar dos percalços de quem depende das lojas físicas por causa da pandemia, o cenário para o Café Cultura é promissor por causa da expansão do mercado de cafés especiais no país. O consumo dessa categoria cresce de 15% a 20% ao ano, bem acima do setor de cafés como um todo, que é de 3% ao ano, segundo dados da BSCA, associação brasileira de cafés especiais. 

As franquias também têm se mostrado um modelo de negócios resistente aos trancos da pandemia. O faturamento do setor cresceu 23% nos últimos três meses de 2020 na comparação com o trimestre anterior, segundo a ABF, associação brasileira de franquias. 

Embora o setor ainda não tenha conseguido medir o impacto da segunda onda de contágios pela covid-19, que obrigou o fechamento do comércio em boa parte do país em março, o faturamento das franquias brasileiras está próximo do patamar pré-pandemia.

Para atrair franqueados, o Café Cultura criou modelos adaptados de negócios. Há desde uma unidade em carrinho estilo tuk tuk — o investimento numa loja desse tipo sai por 100.000 reais –, até formatos mais elaborados, como bistrô, mini bistrô, quiosque e to go.

Em outra frente, o portfólio vem ganhando produtos especiais para marcar datas comemorativas do comércio, como a Páscoa e o Dia das Mães.  

A meta, agora, é expandir o delivery em todos os modelos de loja para reduzir os riscos do abre e fecha do comércio motivado pela pandemia. “Hoje o comércio vive de analisar decretos”, diz Luciana, sobre a proliferação de leis municipais com protocolos sanitários para o combate à crise sanitária. 

Apostando no delivery e num cardápio adaptado ao consumidor que está em casa, o Café Cultura quer mostrar que certas coisas, como o hábito de tomar café, seguem trazendo boas oportunidades para os empreendedores mesmo durante os percalços da pandemia.

 

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